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quinta-feira, 26 de junho de 2008

São Paulo, finalmente, vira patrono da cidade de São Paulo

Poucos sabiam, mas desde 1782 Santa Ana era a padroeira oficial da capital paulista

Rodrigo Brancatelli

São Paulo, a cidade, ganhou esse nome justamente porque sua fundação ocorreu na mesma data em que se comemora a conversão do apóstolo Paulo de Tarso. São Paulo, o apóstolo dos gentios, é considerado uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo. Mas lições de história e de religião à parte, o que poucos sabem é que o papel de patrono da cidade nunca coube ao santo, mas sim à pouco lembrada Santa Ana, a padroeira da terceira idade e protetora dos marceneiros.

Tamanha injustiça foi consertada agora no começo de junho, depois de um pedido pessoal do cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, ao papa Bento XVI. Às vésperas do Ano Paulino, que terá início no sábado para comemorar os 2 mil anos de Paulo de Tarso, a Cúria finalmente nomeou São Paulo como padroeiro oficial da arquidiocese paulistana e patrono da capital. "Sejamos sinceros, poucos sabiam que Santa Ana era a nossa padroeira, até mesmo pessoas da Igreja não tinham esse conhecimento", diz o padre Juarez Pedro de Castro, responsável pela comunicação da arquidiocese. "É como começar do zero, ninguém vai ficar bravo com essa mudança."

São Paulo de Tarso, também conhecido como Saulo pelos hebreus, foi figura primordial para a difusão do cristianismo entre os gentios (não-israelitas). É considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja - suas epístolas formam uma parte fundamental do Novo Testamento. Mas, apesar de toda a sua importância para a religião católica, o papa Pio VI não lembrou do seu nome ao escolher o patrono da cidade de São Paulo. Em documento de 31 de maio de 1782, que está guardado no Museu de Arte Sacra do Convento da Luz, o papa italiano nomeou Santa Ana para o cargo.

"Os portugueses sempre colocavam a figura de Santa Ana nas cidades que fundavam, como fizeram por aqui e em outros tantos lugares. Assim, o Vaticano acabou oficializando a santa como padroeira da cidade de São Paulo", conta o padre Juarez. "No ano passado, quando d. Odilo assumiu, ele queria celebrar o centenário da arquidiocese de uma maneira muito especial. E pediu para Roma nomear São Paulo, ao lado de Santa Ana, como patronos da nossa cidade. Roma não deixou dois patronos e São Paulo foi nomeado sozinho como novo patrono. Praticamente não muda nada, é algo simbólico. Queremos que São Paulo sirva agora de modelo e seja imitado pelos paulistanos."

AVÓ DE JESUS

Com a decisão de tirar o cargo de patrono de Santa Ana, quem não gostou lá muito dessa história foram os devotos da padroeira da terceira idade. "Que isso não seja encarado como um rebaixamento, a Santa Ana foi escolhida por Deus para ser mãe da virgem imaculada", diz Zilda de Almeida, de 55 anos, freqüentadora da Paróquia de Sant'ana, na zona norte da capital.

A história de Santa Ana, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus, toma por base apenas relatos contidos em registros apócrifos e na tradição que vem dos primórdios da era cristã. Conta-se que Ana concebeu Maria ao orar ao Senhor, pois vivia um longo período estéril. "Religião não é uma competição, uma figura católica não pode ser mais importante do que a outra."

Estadão


quarta-feira, 25 de junho de 2008

AMIZADE DE LULA FOI DECISIVA PARA CONTRATAÇÃO DE TEIXEIRA

por João Domingos, no Estadão


A contratação, por empresas aéreas, do escritório de advocacia de Roberto Teixeira, amigo de três décadas e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, coincide com a crise financeira da aviação, iniciada em 2001, quando a Transbrasil parou de voar, e se consolida no governo do PT, quando a Varig quase quebrou. No processo da Transbrasil, Teixeira conseguiu impedir que a Justiça decidisse pela falência da companhia e que a Infraero lhe tomasse os hangares.

Quando a crise atingiu a Varig, que tinha uma dívida de R$ 7 bilhões e em junho de 2005 entrou com processo de recuperação judicial, Teixeira se tornou o advogado ideal. Por três motivos óbvios: a experiência acumulada com a Transbrasil, a competência para esse tipo de causa e o fato de ser íntimo do presidente da República. Ninguém era dono de um currículo melhor e ninguém tiraria melhor proveito dessa situação.

Sua atuação na Justiça e nos bastidores foi decisiva para a venda da Varig à VarigLog, por US$ 24 milhões, em julho de 2006. E da VarigLog para a Gol, oito meses depois, por US$ 320 milhões. Para levantar as histórias das vendas da Varig, o Estado conversou com um ministro e um ex-ministro do presidente Lula, dois ex-dirigentes da Infraero e um procurador que atuou no caso.

Roberto Teixeira também foi procurado. Sua assessoria informou que ele não faria nenhum comentário sobre o assunto. Pediu para que fosse esclarecido somente que na questão das companhias aéreas Teixeira fez tudo com base nas regras dos tribunais e da atuação dos advogados e que nunca fez lobby.

Lobista é um qualificativo que ele não aceita, informou a assessoria do compadre de Lula - ele é padrinho de casamento de Luiz Cláudio, filho mais novo do presidente e de dona Marisa; Lula é padrinho de casamento de Valeska, filha de Teixeira e advogada atuante no caso Varig.

A crise da Varig teve início no dia 17 de junho de 2005, 11 dias depois de o presidente do PTB, ex-deputado Roberto Jefferson (RJ), denunciar a existência do “mensalão” - escândalo que gerou uma CPI, derrubou as cúpulas de todos os partidos aliados do governo e destronou ministros como José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).

Nenhuma das fontes ouvidas pelo Estado arriscou-se a dizer se o passo cadenciado e conjunto das duas crises teve influência nos maus humores do Palácio do Planalto e do presidente. O fato é que a anunciada queda da Varig torturou o primeiro governo de Lula quase tanto quanto o mensalão.

O medo diário no governo era de que os aviões da Varig parassem de voar e que a bomba caísse no colo do presidente. Nesse clima de paranóia, era comum ministros fazerem previsões catastróficas, com visões de incêndios de aviões e destruição de aeroportos pela turba descontrolada, conta um ex-auxiliar de Lula que participou de algumas dessas conversas. O Rio Grande do Sul todo pressionava Lula a salvar a Varig. E ele ouvia coisas assim: “Presidente, a Varig tem mais de 80 anos. Sua marca confunde-se com a bandeira do Brasil no exterior. Se morrer, morre um pedaço do Brasil”.

José Dirceu, então ministro da Casa Civil e principal alvo de Jefferson - foi apontado pelo Ministério Público Federal como o chefe do esquema do mensalão -, chegou a pedir o rascunho de uma Medida Provisória que estatizaria a Varig. Passou-a para o colega José Viegas, ministro da Defesa à época, que prometeu tocá-la. Um pequeno Boeing, desses que enfeitam as mesas das agências de turismo, chegou a ser pintado com as cores da nova, mas nunca criada empresa, cujo nome provisório era 'InfraeroAir'.

Mas, antes que Viegas concluísse o texto final do documento estatizante, ele se viu às voltas com denúncias de gastos excessivos na reforma de sua casa funcional, além de trombar com o Comando do Exército por causa de uma nota oficial da Força sobre tortura de presos políticos no regime militar (1964-1985). Foi demitido. O novo ministro da Defesa, José Alencar, não quis nem saber da MP da InfraeroAir. 'Sou empresário. Que o mercado se regularize', disse Alencar, sentado em cima da Medida Provisória.

O presidente Lula tomou posse no dia 1º de janeiro de 2003. Escolheu Viegas para ministro da Defesa. Para a Infraero levou Carlos Wilson (PE), que tinha disputado o Senado pelo PTB, mas fora derrotado - mais tarde, Wilson trocaria o PTB pelo PT. Assim que o governo petista teve início, Roberto Teixeira começou a apresentar à Defesa e à Infraero propostas de salvação da Transbrasil, todas mirabolantes. Uma delas, de venda da empresa para o coronel Muamar Kadafi, ditador da Líbia. Nada disso andou. A Transbrasil não voou mais, mas os recursos de Teixeira conseguiram impedir a falência.

Segundo depoimentos tomados pelo Estado, foi nessa época que Roberto Teixeira começou a apregoar que era amigo do presidente e as coisas deveriam sair do jeito que ele queria. Quem não colaborasse sofreria as conseqüências. De uma para outra a caixa de e-mails de Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula, começou a entupir com mensagens de Teixeira fazendo queixa de alguns funcionários do governo.

Para piorar a situação dos servidores envolvidos com a questão aérea, no caso Varig o advogado destacou para acompanhar o processo sua filha Valeska, afilhada de Lula. Contam os servidores do governo que, sempre acompanhada pelo marido, Cristiano, ela dava chiliques e sapateava nas salas deles. Uma vez, Carlos Wilson, então no comando da Infraero, irritou-se com a conversa da advogada, foi embora e deixou Valeska e a sua ira sozinhas.

Pai e filha gabavam-se, para os funcionários, de ter muita influência junto ao presidente Lula. Comentando as denúncias da ex-diretora da Anac Denise Abreu contra Roberto Teixeira, Lula defendeu o compadre, três semanas atrás, e disse que a fala dela era um ato “abominável”.

No auge da crise da Varig, Lula costumava dizer a Carlos Wilson: “Fica tranqüilo. Não é com você. Querem atingir é o presidente”. Depois da entrevista de Denise Abreu ao Estado, no domingo, dia 8, revelando o que ela chamou de “pressões imorais” para salvar a Varig, o presidente, segundo um auxiliar, comentou: “Vão aumentar os ataques contra o Roberto Teixeira, porque querem atingir é a mim”.

A posse dos primeiros diretores da Anac ocorreu no dia 20 de março de 2006, no início da crise da Varig. Sete meses depois, houve o acidente com o Boeing da Gol e o jato executivo Legacy, quando morreram 154 pessoas. Dois meses e meio depois, a Anac concedeu autorização para que a Varig operasse. No dia seguinte, os sócios da Varig visitaram o presidente Lula. Três meses depois, a Varig foi vendida para a Gol.

Nenê Constantino e seu filho Constantino Jr., ao lado de Roberto Teixeira, visitaram Lula em seu gabinete, para comemorar a operação. O governo livrava-se, assim, do problema Varig, pois tudo havia sido intermediado pela Justiça do Rio de Janeiro.

No dia 17 de julho do ano passado caiu em Congonhas um Airbus 320 da TAM, quando morreram 199 pessoas. O então ministro da Defesa, Waldir Pires, foi substituído por Nelson Jobim. Denise Abreu, então diretoria da Anac, ficou.

Conta um auxiliar do presidente que Jobim foi a Lula e disse: “Presidente, temos de tirar toda essa diretoria da Anac. Lá, cada um é lobista de uma empresa aérea”. Lula teria respondido: “Mas a Dilma (Dilma Rousseff, ministra-chefe da Casa Civil, que Denise Abreu acusa também de fazer pressão para a venda da Varig) já se cansou de tentar isso e ninguém saiu”. Jobim teria retrucado: “Deixa comigo. Eles não vão suportar”. Pouco depois, todos pediram demissão.

Antes, no entanto, o governo fez chegar aos diretores pressionados a promessa de que se saíssem teriam outros empregos. A Milton Zuanazzi, presidente que não tinha poder de decidir - as decisões eram tomadas pela diretoria, num colegiado -, foi prometido um cargo de direção da Embratur; a Leur Lomanto, um lugar de conselheiro do Tribunal de Contas da Bahia; a Denise Abreu, um bom cargo no governo federal, visto que havia renunciado ao de procuradora do Estado de São Paulo. Ninguém recebeu nada.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Inflação e comodismo

Terminou quase em festa a reunião ministerial convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, para discussão das pressões inflacionárias e das possíveis ações contra a alta de preços. Mas o presidente decidiu não tomar nenhuma nova medida, porque o governo, segundo se concluiu, já fez a sua parte. Além disso, o Brasil, de acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é quase uma ilha de estabilidade no meio de um vasto oceano agitado pela inflação. Há pouco mais de 30 anos, o governo de então classificou o País como ilha de prosperidade durante a crise do petróleo. Poucos anos depois foi preciso, com profunda tristeza, rever a avaliação. Desta vez, pelo menos um órgão público, o Banco Central (BC), permanece mobilizado para enfrentar o perigo. Se a inflação for contida até o começo do próximo ano, será graças, portanto, à abominada política de juros altos. Será mais difícil e talvez mais custoso economicamente, mas esse é o caminho traçado, por enquanto.

O Brasil, como disse o ministro Mantega, é um dos poucos países com a inflação dentro da meta, isto é, dentro do intervalo de tolerância definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O mercado financeiro continua projetando uma inflação abaixo do limite, para o fim do ano e para 2008. As projeções, no entanto, pioraram nas últimas duas semanas e os índices de preços mostram um quadro cada vez mais desfavorável. Primeiro ponto importante: a situação só não é pior porque o BC percebeu mais cedo os sinais de perigo e começou a agir. Sua disposição, como ficou claro na última Ata do Copom, é continuar elevando os juros para conter a demanda.

Segundo ponto: ao contrário da tese exposta pelo ministro da Fazenda, o Executivo não tomou nenhuma iniciativa relevante para deter a onda inflacionária. O ministro mencionou a decisão de elevar de 3,8% para 4,3% do PIB a meta de superávit primário deste ano. Mas a decisão apenas consagrou uma situação de fato. O resultado obtido até abril já estava muito próximo desse "novo" objetivo, não por causa de uma política austera, mas, basicamente, como conseqüência da elevação da receita.

O superávit primário obtido até agora não foi suficiente para conter a expansão da demanda. O governo continua gastando muito e ainda não há sinais importantes de arrefecimento do consumo. O aumento do IOF cobrado nos empréstimos a pessoas físicas não afetou a tendência. Serviu para engordar a receita do Tesouro. Para isso o governo elevou o imposto no começo do ano, e não para conter a demanda. O objetivo era compensar, em parte, a extinção da CPMF, mas o ministro parece haver esquecido esse detalhe.

Em sua alegre exposição, o ministro da Fazenda insistiu na tese de uma inflação quase limitada aos preços de alimentos. Os fatos continuam desmentindo, e cada vez mais claramente, esse ponto de vista. Os maiores aumentos, é verdade, têm ocorrido nos preços da comida, mas a onda inflacionária já se espalha pela maior parte dos componentes dos índices de preços. Já não se trata de inflação localizada, até porque o encarecimento das matérias-primas - alimentos, derivados de petróleo e metais - tende a contaminar todos os setores da economia. A primeira providência, portanto, deve ser a contenção da demanda para limitação de repasses.

O estímulo à produção agrícola, prometido pelo governo, será uma providência bem-vinda. Mas uma boa política de financiamento e de preços mínimos seria necessária mesmo sem as pressões inflacionárias de hoje. A boa oferta de alimentos é condição permanente de estabilidade de preços. Além disso, é fator indispensável à segurança das contas externas. Sem uma boa safra na temporada 2008-2009, a situação brasileira se agravará. Mas uma boa safra no Brasil, desejada por todos, será insuficiente para inverter a tendência dos preços internacionais, se confirmadas as perdas estimadas nos EUA.

O governo poderia sem grande sacrifício elevar para 4,8% do PIB a meta de superávit primário. Isso tornaria mais segura e mais fácil a política antiinflacionária. Falta o presidente admitir essa obviedade.

Estadão
22 de junho de 2.008

POLÍTICA DE PRIVACIDADE

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