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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Por que somos tão ruins em matemática?

Para brasileiro gostar da disciplina, mudança tem de começar na sala de aula das faculdades que formam os futuros docentes

Fonte: O Estado de São Paulo (SP)
Ocimara Balmant
ESPECIAL PARA O ESTADO
A aversão é tanta que o senso comum aponta: o brasileiro já nasce sem vocação para aprender matemática. O estudo na área começa com professores sem formação específica, que em geral não gostam da disciplina, e acaba com docentes que têm conteúdo para transmitir, mas não didática. No fim do ensino médio, exames confirmam o despreparo.

O resultado do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), divulgado no mês passado, mostrou que 57% dos alunos terminam o ensino médio com rendimento insatisfatório em matemática.

Os números do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), que avaliou o desempenho em matemática de jovens na faixa de 15 anos, colocaram o Brasil na 57.ª posição em um ranking de 65 países. No topo da lista estão China, Cingapura e Hong Kong.

Se a meta é fazer com que a produção de ciência e tecnologia acompanhe o crescimento econômico do Brasil, essa intolerância à matemática precisa ser combatida com urgência, dizem os especialistas.

E a mudança precisa começar na sala aula. Mas não naquela que as crianças frequentam. A reforma deve ocorrer, primeiramente, nas classes das universidades que formam os futuros professores do País.

O desafio começa na formação dos docentes que dão aulas para o ensino fundamental 1. No Brasil, os professores do 1.º ao 5.º ano são polivalentes, isto é, responsáveis pelo conteúdo de todas as disciplinas e, por isso, não têm uma formação específica. Entre eles, poucos estudaram exatas.

"Além de ter de dar conta de todas as matérias, muitos trazem a tradição brasileira de não gostar de matemática", diz Priscila Monteiro, consultora pedagógica para a área de matemática da Fundação Victor Civita.
 
Para esses, segundo a especialista, falta conhecimento. "Ele sabe ensinar, mas, como não domina o conteúdo, acaba preso às regras. Logo, a criança aprende de forma arbitrária, sem lógica."

Priscila conta que, numa análise de cadernos de estudantes, constatou que, nas questões de matemática, sempre havia a resposta, nunca o processo de resolução. "Desse jeito, o aluno não constrói uma postura investigativa."
 
Problema oposto ocorre com os docentes do ciclo 2 do ensino fundamental, que dão aula para estudantes do 6.º ao 9.º ano. "Nesse caso, o professor de matemática é formado na área, tem conteúdo, mas lhe falta didática. Daí, ele se foca naqueles alunos que acompanham a aula e os outros continuam parados, aumenta o vale entre eles," diz Priscila.

Mudanças
Para tratar de propostas e materiais para o ensino de matemática, o Instituto Alfa e Beto (IAB) promove, em agosto, um seminário internacional sobre o tema, voltado a professores e coordenadores pedagógicos.

"Vamos discutir a forma de ensino: o material pedagógico que usamos é adequado? Qual o tempo de aula ideal? A fração tem que ser ensinada em forma de pizza? Decora ou não tabuada?", elenca João Batista Araujo e Oliveira, presidente do IAB.
 
Um dos palestrantes é Daniel Willingham, professor de Psicologia Cognitiva da Universidade de Virgínia. "Estou certo de que todos são aptos a aprender matemática. Mas também estou certo de que é uma disciplina mais abstrata e, por isso, mais difícil de ensinar do que as outras."

Para outro convidado do evento, Hung-Hsi Wu, da Universidade da Califórnia, a dificuldade existe porque o aprendizado não é "natural". "A criança aprende a falar sem esforço especial, mas matemática é uma arte difícil. Se não for ensinada por quem sabe, se torna assustadora. Mas, se for uma descoberta bem guiada, pode ser surpreendente."

Efeito cascata
Formar alunos com gosto pela matemática pode ajudar a resolver até mesmo a carência de professores da disciplina. Nos vestibulares da USP e da Unesp, por exemplo, a concorrência para licenciatura na área é de cerca de dois candidatos por vaga.

No País há 59 mil professores formados em Matemática para 211 mil com formação em Letras. Somado a isso, muitos dos formados passam longe da escola. A baixa remuneração paga aos professores não atrai esses profissionais e muitos optam, por exemplo, pelo trabalho na rede bancária.

Comparação
- 4 em cada 10 jovens brasileiros de 15 anos não sabem fazer uma operação de multiplicação, habilidade ensinada até o 5º ano do ensino fundamental.
- 30 mil engenheiros se formam ao ano no Brasil. O número representa 23 engenheiros para cada 10 mil habitantes. Em Israel, o índice chega a 140. No Japão, são 75.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Panorama da saúde pública no Brasil

20/05/2011
Agência FAPESP – A revista médica britânica The Lancet publicou uma série de artigos que tratam com detalhes os diversos setores da saúde pública do Brasil. A série, intitulada "A saúde dos brasileiros", faz uma ampla revisão de documentos existentes sobre a saúde e a assistência médica da população e foi publicada em português e em inglês.
Produzido por uma equipe de 29 especialistas brasileiros em saúde pública, o conjunto de artigos descreve a história da assistência médica no Brasil, buscando dar ênfase ao Sistema Único de Saúde (SUS), implantado em 1988.
De acordo com o documento, melhoras significativas ocorreram desde então. "O principal sucesso é o fato de que toda a população pode ter acesso à saúde pública, o que não é comum em países como o Brasil", afirmou o epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Cesar Victora.
Os outros acadêmicos que coordenaram a publicação foram o médico epidemiologista e sanitarista e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Mauricio Lima Barreto; a médica epidemiologista e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Inês Schmidt; e o médico especialista em medicina preventiva, saúde pública e nutrição humana e professor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Augusto Monteiro.
O documento apresentou alguns dados positivos para o país. Entre eles, a redução significativa da mortalidade causada pela doença de Chagas, esquistossomose, diarreia infantil, cólera e Aids. Porém, avalia que a estratégia de redução de mortalidade ainda precisa ser aprimorada, sobretudo em municípios de pequeno e médio porte.
As campanhas de vacinação também foram avaliadas como muito bem sucedidas, apontando o país como um exemplo nesse aspecto. O estudo também mostrou que o Brasil tem melhorado o controle das doenças infecciosas em geral.
No entanto, o estudo também ressalta dados negativos da saúde pública brasileira, como a falta de controle da dengue e da leishmaniose. Segundo o documento, "o cenário para o controle da dengue não é estimulante".
Outras constatações do estudo foram o alto número de abortos ilegais e a hipermedicalização dos partos, que comprometem a saúde das mães.
O estudo também menciona o avanço da obesidade e das doenças que se relacionam a ela, bem como o alto número de mortes violentas, por crimes ou acidentes.
De acordo com a publicação, ainda é necessário que o governo amplie gastos na área da saúde, melhore a infraestrutura para reduzir a dependência de serviços privados e aumente o controle de propagandas de alimentos infantis, tabaco, açúcar e outros produtos prejudiciais.
O texto sugere a promoção de ações em conjunto com os trabalhadores de saúde, universidades, instituições de pesquisa e formação, setor privado e sociedade civil. Com a participação ativa destes atores, segundo o documento, seria possível estender o direito à saúde para toda a população brasileira.
O documento pode ser acessado em www.abc.org.br/IMG/pdf/doc-574.pdf

domingo, 15 de maio de 2011

Padronização não evita alta das tarifas bancárias

O Estado de S.Paulo
As tarifas bancárias aumentaram em média 30% nos últimos três anos, contra uma inflação de 18%, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Isso mostra que não tem sido satisfatório o resultado da padronização das tarifas, imposta pelo Banco Central (BC) para que os clientes possam compará-las mais facilmente, acirrando a competição entre os bancos.
O pacote básico que o Idec montou compara a cobrança pelos serviços nos sete maiores bancos do País (Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, CEF, Santander, HSBC e Banrisul) entre abril de 2008 e o mês passado. Cinco bancos aumentaram os preços acima da inflação - e o que mais aumentou foi o Santander (124%). Apenas um reajustou as tarifas abaixo da inflação (16%, no Itaú) e um não aumentou as tarifas (Banco do Brasil).
Já as receitas dos bancos com todas as tarifas cresceram, no mesmo período, em várias instituições. A CEF as elevou em 83%; o Santander, em 46%; e o Bradesco, em 37%.
Em abril de 2008, preocupado com as reclamações, o BC definiu uma nomenclatura para todos os serviços e um pacote mínimo, com itens "essenciais", como o fornecimento de cartão de débito; quatro saques mensais no caixa da agência ou em caixa eletrônico; duas transferências mensais de recursos entre contas do mesmo banco; dois extratos por mês; uso do internet banking; compensação de cheques; e fornecimento mensal de até dez folhas de cheques. Mas, segundo o Idec, as instituições passaram a incluir serviços que não existiam quando o BC interveio, e pelos quais os clientes têm de pagar, quer precisem, quer não precisem do serviço.
O aumento do custo dos serviços é reconhecido pelos bancos, tanto que um diretor da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), André Luiz Lopes Santos, elogiou o trabalho do Idec e admitiu que falta informação. A Febraban tem um site (Star) onde é possível acompanhar as tarifas.
O que é certo é que os clientes não estão satisfeitos com o aumento de tarifas, pois houve 1.406 queixas, entre abril de 2009 e março de 2010, e 1.553, nos 12 meses seguintes (+10%).
Os serviços bancários são essenciais e cabe evitar dúvidas sobre o que os clientes precisam e os bancos querem vender. Quanto mais porque há milhões de pessoas que só recentemente passaram a usar os serviços bancários.
Não há justificativa para elevar substancialmente receitas e lucros, à custa de correntistas - famílias e empresas - que não podem prescindir dos serviços dos bancos.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A desastrada diplomacia de Lula

João Mellão Neto - O Estado de S.Paulo
Aos 40 dias de governo, Dilma Rousseff tem dado seguidos sinais de que sua gestão não será uma continuação da anterior. Nem poderia. Ela não teria como competir com Lula no seu principal quesito, que é o carisma. Ele tem uma história de vida fascinante, à qual alia uma retórica arrebatadora. Dilma terá de compensar tudo isso firmando uma imagem diferente. Em princípio - ao que parece - ela o fará primando pela racionalidade, pela firmeza e pela eficiência. Isso tudo a levará a divergir de seu criador. Ao menos no que tange aos aspectos mais polêmicos e heterodoxos de sua administração. Política exterior, por exemplo. Dilma já declarou que se vai contentar em defender valores universais, tais como os direitos humanos. E, também, em respeitar e fazer que sejam respeitados todos os acordos e contratos que forem estabelecidos com as demais nações.
Dilma não pretende seguir a espetaculosa diplomacia de Lula. Nos últimos oito anos, o nosso incansável ex-presidente perambulou e predicou pelo mundo inteiro. Agora já dá para fazer um balanço dos resultados.
Lula fez-se presente nas mais obscuras e desconhecidas nações da África. Oficialmente o fez para incrementar o nosso comércio. Na prática, tudo o que conseguiu foi alimentar nossa curiosidade por geografia.
Como um pai generoso, mostrou-se condescendente com todas as diabruras de nossos vizinhos, aqui, da América Latina. Triplicou o valor que o Brasil paga pela eletricidade do Paraguai, entregou refinarias brasileiras à Bolívia, defendeu intransigentemente a Venezuela, exaltou o regime de Cuba e cedeu a todas as chantagens comerciais da Argentina. Tudo a pretexto de manter uma política de boa vizinhança.
Comprou briga com os EUA a título de reafirmar a nossa autonomia, reconheceu a China como "economia de mercado", cortejou a França como "parceira estratégica", irritou tanto árabes como israelenses ao tentar intermediar os seus conflitos e se indispôs com o resto do mundo ao dar legitimidade ao regime vira-latas de Ahmadinejad, no Irã.
Fez tudo isso com o manifesto objetivo de conseguir para nós uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. E também, segundo ele, para fazer brilhar a imagem do Brasil no exterior. Quais foram os resultados? Vamos lá.
Os países africanos receberam Lula com grandes festas, e não passou disso. No que diz respeito ao comércio, eles não têm dinheiro para comprar nada da gente e nós não temos interesse em comprar nada deles. Fazer um intercâmbio de coqueiros talvez funcione.
Aqui, na América Latina, a imagem do Brasil é a de um grande e balofo cão São Bernardo que, na ânsia de agradar, faz papel de bobo perante os seus coleguinhas menores. A tão almejada "liderança natural" do Brasil no subcontinente, assim, ainda está muito longe de ser alcançada.
Ao contrário. Na Unasul e no Foro de São Paulo quem dá as cartas é Hugo Chávez, que, aliás, se valeu da vaidade e da boa-fé de Lula para nos pôr em situações difíceis. Foi ele que instigou Evo Morales, da Bolívia, a nacionalizar as empresas brasileiras e também transformou a nossa embaixada em Honduras em casa de repouso do ex-presidente de lá.
Lula dispôs-se até a enviar tropas brasileiras para garantir a paz no Haiti. Nossos soldados estão nesse país até hoje. E já faz mais de seis anos. Ninguém sabe quando e como sairemos de lá. Que benefício este gesto de generosidade nos trouxe? Nenhum. Quando ocorreu algo realmente sério - um terremoto -, os norte-americanos trataram de desembarcar por lá e resolver o problema sozinhos. Não confiaram nos nossos pracinhas para nada.
A propósito dos EUA, os nossos gestos de hostilidade a eles serviram apenas para reafirmar a nossa pretensa autonomia terceiro-mundista. Em termos comerciais e políticos, foi um verdadeiro desastre. Logo que assumiu a presidência, Barack Obama cuidou de afirmar, em público, que Lula era "o cara". O nosso presidente levou a gentileza ao pé da letra, acreditou que era realmente um sujeito "especial", e passou a esnobar o colega e o seu país.
Não que os norte-americanos tenham ficado muito sentidos com isso. Apenas o Departamento de Estado riscou o Brasil do mapa e, em consequência, nós perdemos uma chance histórica de vender etanol a eles. Obama já tinha declarado a sua intenção de buscar, em curto prazo, fontes "limpas" de combustível.
Quanto aos outros dois países ricos que Lula cultivou, ocorreu o seguinte: a China aproveitou o status de economia de mercado que o Brasil lhe concedeu para nos entupir de bugigangas fabricadas por lá. E nós não podemos mais levantar nenhuma barreira contra isso. Já quanto à França, a simpatia dela nos custou a promessa de lhes comprarmos três dezenas de aviões de combate.
Agora, a obra-prima da desastrada diplomacia lulista foi a inconsequente tentativa de intermediar um acordo em torno do programa nuclear iraniano. Será que o nosso ex-presidente estava tão cheio de si a ponto de acreditar - como ele mesmo declarou em público - que estava "conseguindo, em 24 horas, o que os americanos não obtiveram em 20 anos"?
O que o Brasil conseguiu, de fato, foi atrapalhar a negociação internacional de sanções contra o Irã. O mundo zangou-se por causa da nossa intromissão e o Brasil ficou com a fama de "parceiro não confiável".
Até os países africanos - que Lula tanto cultivou - votaram contra a proposta brasileira na ONU. E nós contávamos com o apoio deles... Com tudo isso, o tão almejado assento permanente no Conselho de Segurança ficou ainda mais distante.
Pensando bem, será que valeu a pena?
JORNALISTA, DEPUTADO ESTADUAL, FOI DEPUTADO FEDERAL, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO. E-MAIL: J.MELLAO@UOL.COM.BR. BLOG: WWW.BLOGDOMELLAO.COM.BR

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